O processo da transferência ocorre quando um paciente se apaixona pelo médico, psicólogo, dentista, advogado, etc. A carência, o sofrimento causado pelo acúmulo de problemas e a satisfação por encontrar alguém disposto a se envolver profissionalmente e resolver o problema, faz com que seja comum o surgimento de amor pelo protetor.
Estas relações costumam não dar certo, sendo muito raros os casais que tiveram uma relação estável ou mesmo casamento.
A imagem projetada no curador chega a ser de ídolo, mas por trás desse papel existe uma pessoa que não é conhecida pelo paciente, que não é exatamente um herói, mas um ser humano normal.
Quando as máscaras caem e as pessoas se vêem de verdade costuma haver um choque capaz de fazer o amor desaparecer, mas sempre há exceções.
O que deve ser feito nestes casos é o paciente se declarar, procurar ouvir a versão do médico que foi preparado para esta situação, pois a transferência é frequentemente comum em consultório e exaustivamente estudada na faculdade.
Caso haja a contratransferência, ou seja, o médico também se apaixona pelo paciente, o que deve acontecer é ambos interromperem o tratamento, com a indicação de outro profissional. A partir da interrupção, ambos estarão livres, mas devem ter consciência de que o “amor” existente pode ser o “conteúdo psíquico” da própria doença a ser vivido através de um relacionamento.
O que é mais natural acontecer é o médico tentar devolver o afeto através da dedicação e da cura. O paciente melhorado passa a gostar mais de si próprio, amor por si mesmo que pode ser o mesmo que havia antes pelo protetor.
Mauro Godoy